Há muitos e muitos anos e em especial para quem é da década
de 90 para trás a concepção de família era uma só: pai, mãe, filhos, irmãos,
avós, tios e primos. Geralmente, todos se reuniam para, juntos, saborearem as 3
refeições básicas como o café, o almoço e a janta, e, nesse momento, todos
sentiam-se próximos e acolhidos um pelo outro. Nos finais de semana muitas
famílias se reuniam com os parentes mais próximos e faziam aquele almoço de
domingo com a parentada toda. Havia também as festas de fim de ano, onde os
parentes mais distantes se encontravam e tudo era motivo para lembrar dos
“causos” antigos, das estripulias dos irmãos quando novos, dos primeiros bailes
e matines, das festas na beira do rio dividindo uma melancia, tamanho: família.
Infelizmente, hoje, o cenário é bem diferente: filhos que
vivem só com a mãe, ou só com a avó ou a tia; filhos que não conhecem seus
pais; pais que não sabem mais quem são seus filhos; famílias de uma pessoa só;
amigos que dividem uma casa na cidade e veem seus pais somente nos finais de
semana; empresas que são famílias; filhos de duas mães ou de dois pais;
famílias que usam a tecnologia para se aproximarem; famílias que usam a
tecnologia para se afastarem.
São muitos os fatores que contribuem atualmente para a
desintegração parcial ou total das famílias. O diálogo, ou a falta dele pode
ser um dos principais. As brigas, os desentendimentos que separam famílias por
anos, o consumismo, o capitalismo, os vícios, a ignorância, a hipocrisia, as
crenças, o individualismo e o sedentarismo podem ser outros.
O mundo evoluiu tanto nas últimas décadas que conseguiu
separar o que antes era uma coisa só. Tanta evolução ocorreu para que coisas,
processos e pessoas se tornassem cada vez mais independentes. Independentes de
contato, de afeto, de carinho, de um abraço. Hoje as pessoas são tão
independentes que com o tempo, talvez, o conceito de família seja lembrando
apenas na literatura, no cinema, ou nos livros de história. E está tão fadado a
desaparecer que pode ser provável que num futuro próximo seja refletido ou tido
como uma mera ficção “indagatória”: “Será que as pessoas realmente viviam
assim?”. “Admirável mundo novo” de família de um membro só... Talvez, tais
reflexões ajudam a perceber a importância que a família tem na formação do caráter,
na concepção do ser. E, talvez, não. Talvez, você, após ler esse texto,
reflita: quem é a sua família? O que você fez por ela hoje, ontem ou na semana
passada? Você já parou para pensar que é a partir da família que temos a melhor
ou talvez a única relação com o nosso passado? E que é o nosso passado que diz
quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Ninguém vive só de saudades.
Ninguém consegue viver sozinho a vida toda. Se o seu melhor amigo é a sua
família, diga isso a ele. Se você está de mal com alguém, mesmo que não seja da
sua “família oficial”, diga o quanto essa pessoa é importante para você! Ainda
há tempo de salvar uma vida se ela tem significado. E se não tem, não resta
outra escolha a não ser fazê-la ter. Então, só me resta lhe desejar uma boa
escolha... uma escolha feliz, na verdade.
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