sábado, 29 de março de 2014

A desintegração da família

Há muitos e muitos anos e em especial para quem é da década de 90 para trás a concepção de família era uma só: pai, mãe, filhos, irmãos, avós, tios e primos. Geralmente, todos se reuniam para, juntos, saborearem as 3 refeições básicas como o café, o almoço e a janta, e, nesse momento, todos sentiam-se próximos e acolhidos um pelo outro. Nos finais de semana muitas famílias se reuniam com os parentes mais próximos e faziam aquele almoço de domingo com a parentada toda. Havia também as festas de fim de ano, onde os parentes mais distantes se encontravam e tudo era motivo para lembrar dos “causos” antigos, das estripulias dos irmãos quando novos, dos primeiros bailes e matines, das festas na beira do rio dividindo uma melancia, tamanho: família.

Infelizmente, hoje, o cenário é bem diferente: filhos que vivem só com a mãe, ou só com a avó ou a tia; filhos que não conhecem seus pais; pais que não sabem mais quem são seus filhos; famílias de uma pessoa só; amigos que dividem uma casa na cidade e veem seus pais somente nos finais de semana; empresas que são famílias; filhos de duas mães ou de dois pais; famílias que usam a tecnologia para se aproximarem; famílias que usam a tecnologia para se afastarem.
São muitos os fatores que contribuem atualmente para a desintegração parcial ou total das famílias. O diálogo, ou a falta dele pode ser um dos principais. As brigas, os desentendimentos que separam famílias por anos, o consumismo, o capitalismo, os vícios, a ignorância, a hipocrisia, as crenças, o individualismo e o sedentarismo podem ser outros.

O mundo evoluiu tanto nas últimas décadas que conseguiu separar o que antes era uma coisa só. Tanta evolução ocorreu para que coisas, processos e pessoas se tornassem cada vez mais independentes. Independentes de contato, de afeto, de carinho, de um abraço. Hoje as pessoas são tão independentes que com o tempo, talvez, o conceito de família seja lembrando apenas na literatura, no cinema, ou nos livros de história. E está tão fadado a desaparecer que pode ser provável que num futuro próximo seja refletido ou tido como uma mera ficção “indagatória”: “Será que as pessoas realmente viviam assim?”. “Admirável mundo novo” de família de um membro só... Talvez, tais reflexões ajudam a perceber a importância que a família tem na formação do caráter, na concepção do ser. E, talvez, não. Talvez, você, após ler esse texto, reflita: quem é a sua família? O que você fez por ela hoje, ontem ou na semana passada? Você já parou para pensar que é a partir da família que temos a melhor ou talvez a única relação com o nosso passado? E que é o nosso passado que diz quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Ninguém vive só de saudades. Ninguém consegue viver sozinho a vida toda. Se o seu melhor amigo é a sua família, diga isso a ele. Se você está de mal com alguém, mesmo que não seja da sua “família oficial”, diga o quanto essa pessoa é importante para você! Ainda há tempo de salvar uma vida se ela tem significado. E se não tem, não resta outra escolha a não ser fazê-la ter. Então, só me resta lhe desejar uma boa escolha... uma escolha feliz, na verdade.





Gente, foi apenas um beijo!!!!

Dificilmente expresso minhas opiniões em redes sociais, mas como toda rede tem o objetivo de fomentar, criar e disseminar conhecimento, seja ele superficial, empírico, popular ou científico, lá vamos nós!

O beijo que parou o Brasil, no último capítulo da novela “Amor a Vida”, não poderia ser passível de discussão. Ainda mais quando a mídia, de modo geral, abordou otema de forma tão aberta e positiva. Mostrou um beijo gay romântico e natural, por meio de toda uma trama, que por sinal, muito bem escrita por Valcyr Carrasco, e que se assemelha muito a vida real. A novela mostrou gays bem resolvidos, com excelentes postos de trabalho, amáveis, amigos, companheiros, como de fato são. A imagem que a maioria das pessoas tem sobre os gays é muito superficial e generalizada. Assim como todos os outros tipos de preconceitos existentes, os quais existem e são julgados pela falta de conhecimento, convívio e sensibilidade das pessoas.


Porém, a crítica negativa (aliada ao pensamento machista e preconceituoso) sempre vai existir, em especial ao citar tal abordagem no horário nobre, com crianças assistindo, questionando e tal. Ai eu vos pergunto: a cena do beijo não poderia ser exibida, mas as outras cenas de sexo, violência, traição, poderiam? Assim como acho que muitas outras coisas teriam relevância, por se tratar de horário nobre, e que por inúmeras questões, crianças menores de idade não deveriam presenciar, por exemplo, a brutalidade da Aline esfaqueando o Ninho, ou todas as outras barbáries exibidas em tal horário. Se os pais tem controle sobre o que os filhos assistem, é uma coisa, se não tem, é outra bem diferente. Na segunda opção cabe aos pais explicar e não esconder a realidade da nossa sociedade que deveria ser livre e igual. Melhor discutir uma coisa tão natural em casa, por meio de uma novela, que na minha opinião, mostrou de uma forma muito feliz e direta a relação homossexual, do que abordar tal situação fora do âmbito familiar. 


O relacionamento homossexual não é de hoje. Mas hoje é o tempo de mudar e de nos libertar de uma sociedade machista e preconceituosa. Acho que a mídia fez muito bem o seu papel de considerar e relevar uma cena que com certeza ficará na história, não somente da TV Brasileira, mas na mente das pessoas. Uma cena da vida real. Uma cena da amor, não de pornografia, muito menos de violência. Uma cena de sentimentos verdadeiros que precisam ser vistos e aceitos na sociedade de uma vez por todas!

Pronto! Falei! Tô leve!!! Ufa!
(04/02/14: Sobre o primeiro beijo gay na novela Amor a Vida - Felix e Niko).

Eu hoje acordei gorda

Acordei, como todos os outros dias, no mesmo horário: 07:10! Mas não consegui levantar por inúmeros fatores. Em especial, o peso.
Levantava, mas o tronco e a bunda ficavam. Tentava ao contrário começando pela bunda, ia o tronco, “vai, vai, vai” como uma torcida em final de Copa do Mundo, mas a cabeça, ou melhor, pescoço e cabeça pareciam estar colados com super bonder no colchão. De repente, uma voz jejuada grita da cozinha: “Manhêêêêêêê! Tenho prova na primeira aulaaaa”. Puta que o pariu! (pensei). Pulei no susto 1 e nem olhei no espelho para ver se a minha pele tinha desfigurado. Lembrou? Super bonder, cola, colchão... Enfim, meus passos até a cozinha denunciavam que a dona Redonda de Dias Gomes havia subido aos céus e descido naquele instante, em mim.
Fui, levei, voltei. Mas voltei a..., a dormir. Acordei, fui, busquei os barrigudinhos na escola (porque filhos da reencarnação da dona Redonda só poderiam ser chamados assim, ou de redondinhos, mais meigo, talvez). Almoço com Centrum Control para inibir o apetite. Tempo para o almoço esgotado. Trabalho. Chegando lá, o assunto era um só. Funcionário 1: “Kátia Flávia está magérrima, você viu?”; Funcionário 2: “Kátia Flávia está magérrima com a lipo, você viu?”; Funcionário 3: “Kátia Flávia está magérrima, fez lipo e tirou a papada”. Funcionário 4: “Kátia Flávia está magérrima, fez lipo, tirou a papada e tu viu o silicone? Ficou perfeita!”; Funcionário 5: “Kátia Flávia está magérrima, fez lipo, tirou a papada, colocou silicone, botox nas rugas e metacril nos lábios... Ficou perfeita!”
Puta que pariu! (só pensei) Susto 2. Vou vomitar e depois explodir (como a dona Redonda). O assunto era só Kátia Flávia daqui, Kátia Flávia dali e pergunto a você agora: você não conhece a Kátia Flávia? Pois lhe digo uma: o mundo está cheio delas. Assim como está cheio de doctors Reys em busca de Kátias Flávias e, o oposto também, o que é bem mais evidente.
Padrões friamente calculados pela indústria cosmetipólica que anuncia milagres cutâneos, estéticos e modeladores em poucas semanas. Tem uma, num país oriental que dispensa bisturis: modelagem a base de tapas. Sim, você paga uns 5 mil, vai lá, a mulher fica 1 hora dando tapas na bunda, tapas na barriga, tapas nas tetas, tapas no rosto, e, na papada. Poucos dias depois, após os hematomas da surra desincharem, o resultado: corpo esbelto, modelado, anoréxico e esteticamente correto. Pasmem! ECISC: Exteriorização Complexada Imposta pela Sociedade do Corpo!

Capiche??? Para você, que não é nenhuma Kátia Flávia, bora malhar e comemorar com uma cerveja. Continuar gorda, mas feliz! Ah, a Kátia Flávia? Soube que ela morreu há poucos dias. Os comentários, dos mais diversos, entre eles: “Foram muitos procedimentos num curto intervalo de tempo”.

O olho real

A biblioteca era velha. Velha, como a velha: a velha bibliotecária que ali administrava. Pública, talvez tudo por esse motivo. Pública: e com pouco ou quase nulo público. Quando as escolas mandavam suas crianças para a famosa visita à biblioteca pública, a velha surtava. Os ranhentos não respeitavam nem a velha, nem os livros, velhos. Livros velhos e mal cuidados. Não tinham ordem nenhuma, nem os livros, nem a velha. Os livros amontoados em pirâmides habilidosas temiam qualquer movimento. Os meninos adaptavam a brincadeira do pega-varetas para a do pega-livros. A velha só corria de braços abertos pela biblioteca equilibrando um livro aqui e outro ali, conforme iam despencando. E quando uma pirâmide implodia, a biblioteca tremia com o grito da velha. A poeira surrava o rosto dos meninos que fugiam enquanto a velha os perseguia a passos de gigante. “Seus porcos imundos, saiam daqui agoraaaaa”, gritava a velha com voz demoníaca. Um dos alunos, Nelson seu nome, sempre dava um jeito de se esconder no meio da bagunça clandestina. A velha, sentava e soluçava entre um suspiro e outro, entre a lágrima e o pó que sobrava para limpar.  Nelson, na pontinha do pé, bisbilhotava e observava tudo, em busca do livro perfeito. Quando achou que tinha encontrado, petrificou com a visão que teve. Em meio há tantos livros, um buraco. No buraco, um olho. Um olho humano. Sentiu os sentidos não sentirem mais, amoleceram-se as pernas e, branco, fora ao chão, preto. Acordou, minutos depois, com o olho da velha em cima do seu. Nelson levantou num susto horrendo, e correu dali como pôde. Perto da porta, parou e olhou para trás. Viu a velha. Na mão da velha, um livro. Na capa do livro, a foto de um olho. De um olho humano.

Das dores que eu não chamei

Dor de medo. De ter. De ser. E do contrário também. Do olho fechado e por horas revirado: do pesadelo. Dor do medo de não saber. Dor de sentir o que não se sabe. De expulsar de dentro o que não se escolhe: lá fora. Medo da dor: do vidro embaixo da unha do polegar. Medo. Do soro que sai da lágrima. Da dúvida que não passa. Excita o pulmão, cospe e vê a pedra que sai. Bipolar. Medo: ainda. Da explosão. Incolável coração. Toma a pílula, mais uma vez. Na condição de aumentar: diminui. Faz doer a bexiga. Dá câimbra na coxa. Congela o pé. Cicatriz de dentro. Caramujo tatuado.

Daquela pele, no caixão


Arrepio, da pele morta no caixão,
não na dela, na minha, talvez, por vê-la assim.
Relâmpagos de papel, caindo como susto.
E os olhos, insistem em virar para cima,
fechados, tornam o fogo, alívio...
Mas que veneram volumes suicidas...
Feliz dela, um ícone gravado.
No constelário imaginário daquele cemitério,
guitarras em silêncio, gritam entre si.