quarta-feira, 23 de março de 2011

A vida na morte

O vestido, cor de cemitério, estava inerte. Pensou usar no enterro do pai. Será normal pensar no que usar num momento como este? Pois ela pensou. Pensou e usou. Pensou também nos óculos escuros e no batom de sangue. Pensou no colar enforcante, e no sapato fura bicho, e no solitário que herdara da vó, solitária. Solitária e viva. Olhou pela última vez no espelho, parecia atriz de cinema, como seu pai queria que fosse.

(Texto publicado no livro de Contos do Sesc)

Um comentário: