quarta-feira, 23 de março de 2011

Balões no céu


O que irei lhes narrar agora é real. Não sei por que me lembrei deste episódio, mas, são memórias como estas que me transformam no que sou... que me fazem ter histórias para nunca mais parar de contar.... Vamos lá então: Pobre não tem! Nunca viaja de avião e quando viaja, tem que soltar balão. Meus filhos pareciam ter uma hélice no pescoço de tanto que o giravam para um lado e paro o outro. Nunca tinham entrado num avião, então, imaginem a curiosidade dos inocentes. Parecia a cena mais real do êxodo rural. Por motivos logísticos, não conseguimos sentar os 4 juntos. Minha filha sentou ao lado de um casal de simpáticos membros da idade madura, umas 3 fileiras atrás de nós. Eu, meu marido e meu filho, respectivamente nessa ordem, sentamos ao lado de uma empresária, que estava na janela. Até nisso pobre tem azar. Nunca anda de avião e quando anda, pega justo o corredor. Após ouvirmos atentamente todas aquelas instruções da aeromoça, viro para trás e vejo minha filha com os olhos esbugalhados olhando para a máscara de oxigênio, que em caso de emergência serão lançadas sob nossas cabeças. Contive o riso. Olho para meu filho e este se encontra ali imóvel, com a barriguinha explodindo por cima do apertadíssimo cinto de segurança. Dei uma afrouxada antes que fizesse caca logo ali. Decolagem tranquila, todos felizes no céu. Ah, o céu! Era o que meu filho mais sonhara: ver como era por cima das nuvens... Estrategicamente, ele foi se aproximando da mulher na tentativa frustrada de ver as ditas nuvens. Tentei fingir que não ouvi o que ouvi: - Olha! Acho que ali é o Japão. Meu marido mais que depressa responde: - Não Juninho, é a China! E ele responde: - Sério Pi?, Meeee que leguis, os meus amigos não vão acreditar. Nem eu, pensei. Na tentativa de iniciar um cochilo ouço uma voz familiar, em tom super alterado: - Bãe?!?!?!, Bãe?!?!. Me viro para trás e vejo minha filha, em pé, torcendo a cabeça para um lado e para outro, batendo incontrolavelmente nos ouvidos. – Bãe, eu dão dô ouvindo dada. O que dá agondecendo? - Equaliza filha, Equaliza, falei. – Ãh? – Tranca o nariz com a mão e assopra pra dentro guria, ai o ar sai do ouvido. – Ãh?, indaga ela novamente. Foi a única coisa que lembrei de sugerir. Enquanto todos riam da situação, vertiam lágrimas dos olhos da pequena menina desesperada, que continuava: - Bãe, eu dô surda!, Bãe... – Eu só conseguia fazer sinal pra ela falar baixo, até que fui salva pela aeromoça que pacientemente pediu pra ela se sentar, e acalmou a pobre criança. Suspirei de alívio... quando fui expelir o ar num suspiro vejo o Juninho, quase no colo da empresária tentando desta vez, encontrar nossa casa. Olho pro meu marido e vejo um ser inerte, em estado de coma, com a boca aberta, babando na camisa. Terminei de suspirar, olhei para o relógio. Ufa, estamos chegando!

(Quinta, 11/03/2010)

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